domingo, 28 de novembro de 2010

Super-ação e Amor

Até onde vai  o amor?

É uma pergunta simples com uma resposta direta: até onde pudermos sonhar!  Ignoro alguns preceitos bíblicos, dentre os quais aquele que diz que seremos julgados na eternidade. Se existir um juízo final, somente os sonhos não sonhados nos serão cobrados.  Pois a incapacidade de sonhar  é a condição daqueles  que já morreram em vida.
Esta idéia surge quando assisto novamente um vídeo que vem circulando pela internet a alguns anos e que ainda me causa emoção mesmo após tê-lo assistido no mínimo umas 50 vezes. É a história de Dick e Rick Hoyt ou, como gostam de ser chamados “Team Hoyt”.  Rick teve um problema no parto o que ocasionou a falta de oxigênio no cérebro causando lesões irreversíveis com conseqüências motoras e também na fala. A prática médica de 40 anos atrás sugeriu ao pai Dick que o exilasse em uma instituição apta a “cuidar” desses casos.  Felizmente, neste caso, o amor falou mais alto do que o modelo de ciência médica vigente,  e o pai resolveu criar o filho com todas as possíveis limitações que ele viria a ter, mas que,  certamente,  não seria a limitação do amor.
Vale a pena assistir a reportagem do Fantástico[1] sobre  eles, Dick e Rick já participaram de mais de 3 IRONMAN  no Hawai considerada uma das provas mais difíceis do planeta.  É comovente entender o processo que levou Rick a se apaixonar por esta modalidade esportiva. O que estava por trás do desejo de superação era o desejo de solidariedade, pois foi participando de uma prova beneficente em prol de um colega acidentado que Rick entendeu que o  significado da vida  está na possibilidade  de superar a  si mesmo.  “Para conquistar algo que valha a pena, o ser humano deve superar a si mesmo”!
Rick  diz que quando está competindo é  como se não tivesse nenhuma deficiência. Penso eu em todas as minhas pequenas e grandes deficiências e os limites que me  imponho constantemente. Em sua grande maioria, as pessoas são seres de barreiras. O pior de tudo, é que estas barreiras não são visíveis, é como o medo: uma prisão sem grandes que erigimos em nome do controle, da decência, da comedidade, da razão e da prudência. Os seres humanos se resignam a ser o que são, pois não crêem ser algo além.
Me lembrei de Nietzsche que  foi um filósofo que viveu no século XIX e que  não teve uma vida muito afortunada. Muito antes pelo contrário, com saúde débil, viu morrer o  pai quando ainda criança, sem dinheiro e sem o reconhecimento dos outros, teve que suportar o  desprezo e a ira de boa parte de seus contemporâneos que não entendiam o que ele escrevia. Mas Nietzsche foi magnânimo em pensar que o sofrimento nada mais é do que o combustível para superação.  Há que se sofrer para enxergar a vida de outra forma, há que se ter limites para perceber que não há como fugir daquilo que nos desafia. A felicidade não é a fuga dos problemas, mas devemos cultivá-los para extrair algo positivo dele.
Fico com Rick e com Dick citando, ainda mais um pouco Nietzsche:  “Aquilo que não me mata, me fortalece!”.
Paz
Out.2010




[1] http://www.youtube.com/watch?v=cpzxBw-0XB4&feature=related

domingo, 14 de novembro de 2010

Soneto do Amor Total







Amo-te tanto, meu amor ... não cante
O humano coração com mais verdade ...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Vinícius de Moraes