domingo, 18 de dezembro de 2011

Blue and Green Lake

Blue Lake
 Em Rotorua - NZEm Rotorua - NZ existem dois lagos a cerca de 8km do Centro da Cidade chamados singelamente de Blue and Green Lake, as razões para isto
são óbvias:  existem dois lagos a cerca de 8km do Centro da Cidade chamados singelamente de Blue and Green Lake, as razões para isto são óbvias: 








Green Lake - pertencente aos Maoris




Além da água cristalina e por conta da  existência de tipos diferentes de rochas e  de vegetação  a cor da água é diferenciada. O interessante é que ambos os lagos não estão a mais de 150 metros de distância. 









 
Outra peculiaridade interessante para se destacar é que o Blue Lake é um lago dos imigrantes - colonizadores, já o Green Lake, pertence aos Maoris que são os nativos do local. Toda a movimentação turística, eventos e atividades acontecem no Blue Lake. 



  


Nesse dia tinha sol em Rotorua, coisa não muito frequente nesta época do ano,  o povo aproveitou para pular na água. Mas - acreditem - a água, para os nossos padrões tropicais, é muito gelada.  
Salvo um ou outro lago aquecido pelos vulcões, em geral a água é sempre gelada. 






Apesar da água gelada, os esportes e os hobbys náutico são,  com certeza  a preferência nacional.
Aliás, aqui eu descobri uma variante para a sociedade do automóvel em que vivemos. Dizem que o americano é aquele sujeito que fica feliz quando consegue agregar uma casa a sua garagem, aqui, os kiwis  ficam felizes quando conseguem agregar um píer a sua casa. 






Pausa para foto. 














Se não dá para ver a cor da água, é porque ela é cristalina mesmo. 

















sexta-feira, 11 de novembro de 2011

PARTINDO PARA NOVA ZELÂNDIA



A partir de novembro  até o final de Janeiro  estarei postando neste blog além das tradicionais matérias sobre bicicleta e  temas diversos,  conteúdos referentes  a Nova Zelândia, sua cultura, povo, costumes, tradições e história. Também escreverei,  é claro,  sobre vocação ciclística deste país.


ONDE TUDO COMEÇOU 


A história não é longa, pode ser um tanto inusitada, mas o fato é que eu, “pé frio” de nascença, desafortunado de história  e azarado por natureza fui ganhar meu primeiro prêmio na vida  no ano passado. E o prêmio era “só” uma bolsa de estudos para Nova Zelândia. Terra do povo Maori, colonizada pelos ingleses, mas que foi  “descoberta” por um holandês (que confusão!?) chamado Abel Janszoon Tasman (não é por acaso que a extensão de água entre a Austrália e a Nova Zelândia se chama “Mar da Tasmânia”). 


COMO FOI O PRÊMIO?


Tudo começou com um passeio ciclístico  (claro!)  em setembro do ano passado onde fiquei sabendo de um concurso no passeio do mês seguinte onde se sortearia uma bolsa para NZ.  Tudo certo, sem muitas expectativas, incrédulo como sempre, vi pelo anúncio do passeio, que o prêmio seria dado a melhor reposta para a questão: 

5 Coisas que você faria na Nova Zelândia.  Fui para o Google descobrir primeiro: “- Aonde fica esta tal de Nova Zelândia  mesmo?”. Bom, feita a re-descoberta, li um pouco da sua história, entendi um pouco de sua cultura e....não consegui escrever nada. Isso era terça-feira e o prazo final para inscrição era na sexta. Envolvido no trabalho, não mexi mais nisso até a sexta quando então minha mulher me ligou no serviço perguntando: “- Tu não vais escrever a frase?”; Já te inscreveu no passeio?” 


Sentindo a premência do tempo, pus-me a escrever a partir dos dados que havia colhido. Fiz uma frase para mim e outra para ela, claro que a melhor ficou comigo (rsrsrs).
 
A FRASE,


As cinco coisas que eu não deixaria de fazer na Nova Zelândia remontam a história Maori com sua mística original e arte singular de modo a me integrar com o espírito do local.
Subiria o Monte Cook para lembrar o sacrifício empreendido pelos nativos e colonizadores em suas lições de
superar as diferenças.
Viajaria até Wellington para con-viver com os kiwis e aprender o que é solidariedade.
Percorreria a ilha norte e a ilha sul de bicicleta, cadenciando o tempo de modo a não perder um único detalhe.
Me embrenharia na White Island para sentir a minha
pulsação
junto ao pulsar do  coração da terra.

Dispensável dizer que quando se cria uma frase, não se parte da prerrogativa de transformá-la em algo concreto,  ainda mais quando  esta frase  trata de um país que fica a   quase  20000 km de onde estou. 


O fato é que agora estou com esta responsabilidade moral que é cumprir com aquilo que propus. Tá certo que o Monte Cook tem 3700 metros e eu não sou alpinista, também ignorei aquele detalhe de que o White Island é uma ilha vulcânica ainda em  atividade... Posso dizer, diante deste quadro,  que estou em uma média boa, pois no Monte Cook devo ter um problema de hipotermia sério, já na White Island, devo ser cozido pelo calor do vulcão.  Não sei porquê, mas estou achando  que aquele desafio de 2000km de pedal um brinquedo de criança!


Afora o curso de inglês que irei empreender neste primeiro momento, minha única certeza é de que viajarei de bicicleta pela  Nova Zelândia que  é a capital mundial dos esportes radicais.  Aliás, neste país a  população respira bicicleta o que pode ser constatado pelo número de ciclovias e os inúmeros roteiros para cicloviagens.  

Minha meta é viajar pela ilha norte (onde fincarei minha base), a menor e mais povoada e pela ilha sul, a maior e menos povoada. Algo  de 3 para 1; tipo sudeste e  norte do Brasil.  Minha tese,  ainda fora deste país,  é que o frio afugentou o povo da ilha sul, mas vou lá para averiguar. Também devo participar de algumas competições de MTB (peço que não esperem medalhas!). 


Ficarei  nove semanas em Rotorua (www.rotorua.co.nz) dentre as quais 6 farei uma imersão no inglês (na língua inglesa! Por favor não me entendam mal.) Outras 3 semanas e nos fins de semana viajarei de bike pela Aotearoa que é o nome Maori para a NZ e significa “Terra da Grande Nuvem Branca”. 

Fico feliz que a nuvem é branca e não cinza, pois estas duas “pequenas” ilhas perdidas no Pacífico guardam dezenas de vulcões, inclusive eu estarei sentado em um deles em Rotorua. Quando lembrarem de mim, rezem pela paz e tranqüilidade, evitem aquela parte do “aqueça o seu coração e inunde a sua alma”! (Nunca se sabe, não é verdade?! É bom prevenir!) 

Paz!

sábado, 24 de setembro de 2011

O 11 DE SETEMBRO E A CULTURA DE PAZ


Onze de setembro de 2001 foi um marco na história da humanidade tanto quanto a ascensão e declínio do império Romano, a segunda guerra mundial e a queda do muro de Berlim.  Todos estes  momentos,   marcam  uma transição de paradigma na história; após  cada uma dessas eras,  e acontecimentos,  o mundo se transformou:  do império  Romano  seguiu-se  inúmeros outros reinos que formaram os alicerces dos países que hoje existem  na Europa; da segunda guerra, começou-se a pensar o mundo de forma paradoxal – “o bem contra o mal”; com a queda da antiga União Soviética, o que se entendia por “mal” no mundo ocidental começou a se  misturar com os prazeres e valores ocidentais, logo,  pouco afeito ao estereótipo do mal. 


E o 11 de setembro? Bem, esta é uma história formada pelo conjunto das outras, visto que na base de todos estes conflitos, o que está por trás é o desejo de poder e  dinheiro, não necessariamente nesta ordem.  Com a queda do muro de Berlim, toda a paranóia construída em torno do comunismo começa a ficar sem sentido, pois o inimigo comum não mais se corporifica como uma ameaça.  O alvo dos Estados Unidos desloca-se para o Oriente Médio e a África com a meta de levar a "democracia" e o "espírito de liberdade"  a estes continentes.

Muitos países do ocidente ocuparam fisicamente países do oriente próximo, fincando bases militares no Afeganistão e no Iraque.  A fórmula ocidental de ocupação e controle é a mesma do modelo do  Império Romano, isto é, ocupar para dominar e ganhar.  O problema é que quando alguém obstrui a entrada de nossa casa e além disso nos diz como devemos viver dentro dela, nós temos duas alternativas: ou saímos “no pau” e resolvemos tirar a limpo esta questão ou, como é o caso,  resolvemos implantar o terror e jamais deixar dormir estes vizinhos indesejados. 

O que acontece hoje no mundo é reflexo de posturas beligerantes e intolerantes que marcaram o  início da civilização. O paradigma que nos orienta ainda é próximo a uma era pré-civilizada, isto é,  a era  da lei de Talião:  “olho por olho, dente por dente”. Neste percurso,  teremos um mundo cego e sem dentes dentre pouco tempo.
     


Lembro-me da poesia de Walt Whitman: “Ninguém pode ganhar por outrem – nenhum / nenhum pode crescer por outro – ninguém. / O canto é do cantor e a ele retorna mais / o ensino é do professor e a ele retorna mais,  / o assassínio é do assassino  e a ele retorna mais...”

O que vemos hoje é a lei de Talião corporificada nos gestos. O trânsito é a prova cabal disso: manda quem tem tamanho, obedece quem tem sorte ou esperteza. O tamanho do meu automóvel denota o poder do meu império. O que nos falta é uma cultura de paz que nos possibilite implantar o amor aonde existe a diferença. A guerra ao terror certamente gerará mais terror. “o assassínio é do assassino e a ele retorna mais”.  Alguns movimentos, como o dos familiares das vítimas do 11 de setembro,  fizeram  o sentido inverso ao que o presidente americano havia proposto e foram ao Afeganistão  fundar associações de ajudas a mulheres e crianças daquele país.  Isso é cultura de paz. 

 Quando opto por deixar meu carro em casa, abdicar do seu status, seu poderiu econômico e sua força, também estou implantando uma cultura de paz.  Uma pessoa que anda de bicicleta não tem o poder como ícone, nem o status como garantia de auto-estima, mas faz a diferença necessária e urgente no mundo atual.  O ser humano precisa lembrar a cada dia as sábias palavras de Viktor Frankl, psicólogo sobrevivente a três campos de concentração: “desde auschwitz sabemos do que o ser humano é capaz, desde Hiroshima e Nagasaki sabemos o que isso significa”.
A cultura de paz começa com nossos pequenos e pacíficos gestos como andar de bicicleta.
Paz!


sábado, 6 de agosto de 2011

ATRITE-SE

Texto: Roberto Crema
  

sábado, 30 de julho de 2011

Flash Mob

Permitam-me fazer uma pausa  lírica e falar de uma modalidade de arte que vem se multiplicando nos últimos anos por conta do advento da internet.  São os Chamados flah mobs ou um tipo de mobilização relâmpago que se desfaz na mesma rapidez que se constrói.  Artista, amadores ou profissionais, misturados  ao público em geral  empreendem um movimento onde dançam, cantam  e organizam um verdadeiro espetáculo  em alguns poucos minutos.  O inusitado e a discrepância com o local são grandes trunfos  pra beleza  e o esplendor artístico.
O Flash mob em questão, aconteceu na estação central de trens em Bruxelas na Bélgica com uma música do grupo inglês “Queen” . Claro, como não podia deixar de ser,  a música chama-se “Bicycle Ride” . Ela mostra como a bicicleta, e o espírito ciclista, podem ser o antídoto de uma vida de rótulos e estereótipos  massificante e massificada. Os contrapontos que a música expõe na melodia são transcritos na letra  em  forma de desafio a um mundo de ordem rígida e inexorável.  Grande lição para um tempo em que ousamos propor  esta velha, nova  mobilidade em uma bicicleta. Em tempos de atropelamento em massa,  cabe pensarmos sobre o nosso papel  em sermos  diferentes  na multidão de iguais.
No mundo se disseminam flash mobs nas chamadasbicicletadas ou massa crítica que dizem, como a música, querer SÓ andar na minha bicycle. Acho que o mundo precisa de mais arte e lirismo para entender o que significa con-viver!

“BICYCLE RIDE”
Bicycle bicycle bicycle
I want to ride my bicycle bicycle bicycle

I want to ride my bicycle
I want to ride my bike
I want to ride my bicycle
I want to ride it where I like

You say black I say white
You say bark I say bite
You say shark I say hey man
Jaws was never my scene
And I don't like Star Wars
You say Rolls I say Royce
You say God give me a choice
You say Lord I say Christ
I don't believe in Peter Pan
Frankenstein or Superman
All I wanna do is

Bicycle bicycle bicycle
I want to ride my bicycle bicycle bicycle
I want to ride my bicycle
I want to ride my bike
I want to ride my bicycle
I want to ride my

Bicycle races are coming your way
So forget all your duties oh yeah
Fat bottomed girls they'll be riding today
So look out for those beauties oh yeah
On your marks get set go
Bicycle race bicycle race bicycle race

Bicycle bicycle bicycle
I want to ride my bicycle bicycle
Bicycle bicycle bicycle
Bicycle race

You say coke I say caine
You say John I say Wayne
Hot dog I say cool it man
I don't wanna be the President of America
You say smile I say cheese
Cartier I say please
Income tax I say Jesus
I don't wanna be a candidate for
Vietnam or Watergate
Cause all I wanna do is

Bicycle bicycle bicycle
I want to ride my bicycle bicycle bicycle
I want to ride my bicycle
I want to ride my bike
I want to ride my bicycle
I want to ride it where I like

sábado, 16 de julho de 2011

Da Erótica do Desejo





Alguém já disse alhures que o erótico está no detalhe insidioso  que revela o que esconde. Erotismo é mostrar sem desvelar.  O erótico sempre transcende aquilo que percebe, é como a poesia configurando algo além do que diz. Erotismo é a percepção que transmuta-se em desejo.


  A psicanálise diz que não há desejo sem falta, mas como explicar a re-edição do desejo diante da amada presente?
Este é um segredo que só os amantes conhecem:             saber do des-conhecido.... Aquilo que não               sabemos sustenta o que já conhecemos. Não fosse      assim, não erigiríamos templos a um Deus que              não se vê,   nem  produziríamos arte em prol do            amor de alguém que não se tem. Mística e mistério        vem do grego mysterion e associam a idéia de um    mistério que sustentam nossas almas desejantes.


 
A beleza, como diria o poeta, é fundamental, é nela que o erótico lateja e por ela nos dobramos. Segundo Rollo May, a beleza é engrandecida pela experiência interior de cada um. É por isso que a beleza também é relativa. O que não se questiona é a pulsação do mistério. Essa pulsação, que não se vê, é o que nos seduz.  No universo ciclístico, mistério e desejo se misturam, pois há prazer e paixão  no que se percebe.  É verdade que a arte aprendeu o enlace do prazer, desejo e sedução naquilo que elas têm em comum: seus mistérios.




 


sexta-feira, 1 de julho de 2011

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Passeio Socrático

Frei Betto

     Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos dependurados em telefones celulares; mostravam-se preocupados, ansiosos e, na lanchonete, comiam mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, muitos demonstravam um apetite voraz. Aquilo me fez refletir: Qual dos dois modelos produz felicidade? O dos monges ou o dos executivos?

     Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: “Não foi à aula?” Ela respondeu: “Não; minha aula é à tarde”. Comemorei: “Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir um pouco mais”. “Não”, ela retrucou, “tenho tanta coisa de manhã...” “Que tanta coisa?”, indaguei. “Aulas de inglês, balé, pintura, piscina”, e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: “Que pena, a Daniela não disse: ‘Tenho aula de meditação!’”

     A sociedade na qual vivemos constrói super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas muitos são emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram que, agora, mais importante que o QI (Quociente Intelectual), é a IE (Inteligência Emocional). Não adianta ser um superexecutivo se não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!

Uma próspera cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: “Como estava o defunto?”. “Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!” Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

     Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizi¬nho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais…

     A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções -, é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. A palavra hoje é ‘entretenimento’; domingo, então, é o dia nacional da imbecilidade coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: “Se tomar este refrigerante, vestir este tênis,¬ usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!” O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba¬ precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

     Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma su¬gestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globocolonizador, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.

     Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

     Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer de uma cadeia transnacional de sanduíches saturados de gordura…

     Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: “Estou apenas fazendo um passeio socrático.” Diante de seus olhares espantados, explico: “Sócrates, filósofo grego, que morreu no ano 399 antes de Cristo, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: “Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.”
Fonte: http://www.freibetto.org/

quinta-feira, 17 de março de 2011

Céu de Santo Amaro

 

    



 Olho para o céu
Tantas estrelas dizendo da imensidão
Do universo e nós
A força desse amor
Nos invadiu
Com ela veio a paz
Toda beleza de sentir
Que para sempre uma estrela vai dizer
Simplesmente amo você

          Meu amor vou lhe dizer
          Quero você
          Com alegria de um pássaro
          Em busca de outro verão
          Na noite do sertão
          Meu coração
          Só quer bater por ti
          Eu me coloco em tuas mãos
          Para sentir todo carinho que sonhei
          Nós somos rainha e rei

Na noite do sertão
Meu coração
Só quer bater por ti
Eu me coloco em tuas mãos
Para sentir todo carinho que sonhei
Nós somos rainha e rei
Olho para o céu
Tantas estrelas dizendo da imensidão
Do universo em nós
A força desse amor
Nos invadiu
Então ....
Veio a certeza de amar você


Simplesmente sublime esta música. É a prova final que o clássico e o popular podem se completar com primazia e talento. A música é de Johann Sebastian Bach e a letra é de Flávio Venturini e Caetano Veloso que fazem a interpretação também.  Perfeito!

sábado, 12 de março de 2011

Homem Primata ou Um Recado ao Senhor Ricardo Neis

Tenho acompanhado os desdobramentos desde que na sexta-feira, dia 25/02 um cidadão portoalegrense resolveu fazer valer a lei mais primitiva existente desde que o ser humano surgiu na face da terra: a “lei da força”.

Apresso-me em fazer os esclarecimentos quanto a tristeza de saber que este “monstorista” é meu conterrâneo, pois, ingenuamente, julgava sermos um povo civilizado. Claro, não posso esquecer que, em essência, ainda somos um povo inculto. Criados para o consumo, ainda acreditamos que para sermos felizes basta ter um tênis de marca, um celular do ano e, claro, um vistoso, grande e digno automóvel.

Este indivíduo, age tal qual os homens das cavernas agiam, isto é, impõem a força para prevalecer a sua vontade. Na falta desta, usa de instrumentos que lhe multiplicam as forças, no caso, seu próprio automóvel.

Como psicólogo, não posso deixar de lembrar que todos nós temos guardado uma certa dose de força e agressividade que canalizamos para empreender novos projetos e sustentar a própria vida. Uma criança de 1 ano também guarda esta força, mas diferente de nós adultos, não consegue canalizar esta agressividade com a mesma eficiência que o fazemos. Por conta disso, a criança bate, empurra, derruba e pega para si tudo que está em seu alcance. Claro, lembremos, estamos falando de uma criança de 1 ano de idade que, na maioria das vezes, ainda nem consegue balbuciar a palavra “eu”.

Este “monstro” interno que funciona na base do impulso nunca nos abandona, está sempre a espreita esperando o momento certo para dar o “bote”. Depois de 1 ano de idade, este “monstro” não deixa de existir, mas nós aprendemos paulatinamente a controlá-lo. Não fosse assim, não haveria sociedade, pois, tal qual um bebê, não teríamos o domínio sobre nossos atos.

Quando associamos impulso e agressividade com a idade e o acesso a instrumentos que potencializem a força que temos, o resultado é aquilo que aconteceu em Porto Alegre na última Massa Crítica do mês de Fevereiro. Um dândi, inculto e patético que provou com seus atos que não conseguiu evoluir em direção a civilidade, maturidade e decência. Psicologicamente ainda tem 1 ano de idade; quando é contrariado bate, quando é ofendido revida transformando qualquer coisa em arma desde um pedaço de pau (ou machadinho – como confirma a sua ex-namorada) até o seu próprio carro.

É, senhor Ricardo Neis, ninguém disse que era fácil crescer! Mas viver em sociedade implica a contenção de nossos monstros internos. Se assim não fosse, correríamos o risco do sujeito que está com uma carreta atrás de nós no trânsito, também resolver “passar por cima” simplesmente porque “encheu o saco” de ter que esperar.

Para lidar com esta incapacidade de controlar os seus impulsos mais primitivos, o senhor Ricardo está internado em um hospital para “desintoxicação” agressiva. Tudo isso, com a chancela da nosologia psiquiátrica. A deseducação do senhor Ricardo virou um número no código de doenças internacional. É certo que ele precisa de tratamento, visto ter sido educado para fazer o que quisesse e, literalmente, passar por cima de quem quer que fosse. Agora já está bastante grande para se conseguir controlá-lo somente com um aceno ou um carinho como fazemos com um nenê. Ele precisa ser contido, pois não tem controle sobre si; não aprendeu a tê-lo. Logo, é um perigo para si mesmo, e muito mais para os outros.

É lamentável, senhor Ricardo, que a título de resguardar a integridade de seu filho tenhas dado um exemplo tão boçal de conduta. Em uma fase em que o exemplo é o guia primeiro para educação dos filhos, demonstra que devemos ser agressivos, violentos e irracionais perante os outros. Que o mundo é de quem se impõe à força e não daqueles que sabem dialogar, debater e trocar idéias. Lembro, só a título de exemplo, que Gandhi derrubou o imperialismo inglês na Índia e Martin Luther King acabou com o segregacionismo nos EUA sem empunhar uma única arma contra o poder estabelecido. Infelizmente, acreditas ainda que vivemos na era das cavernas lutando contra mamutes e outros seres, usas do poder do teu motor para compensar a fragilidade de tuas convicções.

Espero que sejas condenado, e não só a trabalhos voluntários e cestas básicas, mas a cresceres e assumires a responsabilidade pela vida de todos e não só a tua. Não vivemos sozinhos neste mundo; aquilo que fizermos aos outros, invariavelmente reverterá em algum momento contra nós mesmos.

Deixo um desenho animado para assistires quando estiveres descansando no hospital.



 


domingo, 27 de fevereiro de 2011

Evolução Humana segundo Blu

Saúde Mental


Rubem Alves

Fui convidado a fazer uma preleção sobre saúde mental. Os que me convidaram supuseram que eu, na qualidade de psicanalista, deveria ser um especialista no assunto. E eu também pensei. Tanto que aceitei. Mas foi só parar para pensar para me arrepender. Percebi que nada sabia. Eu me explico.
Comecei o meu pensamento fazendo uma lista das pessoas que, do meu ponto de vista, tiveram uma vida mental rica e excitante, pessoas cujos livros e obras são alimento para a minha alma. Nietzsche, Fernando Pessoa, Van Gogh, Wittgenstein, Cecília Meireles, Maiakovski. E logo me assustei. Nietzsche ficou louco. Fernando Pessoa era dado à bebida. Van Gogh matou-se. Wittgenstein alegrou-se ao saber que iria morrer em breve: não suportava mais viver com tanta angústia. Cecília Meireles sofria de uma suave depressão crônica. Maiakoviski suicidou-se.

Essas eram pessoas lúcidas e profundas que continuarão a ser pão para os vivos muito depois de nós termos sido completamente esquecidos. Mas será que tinham saúde mental? Saúde mental, essa condição em que as idéias comportam-se bem, sempre iguais, previsíveis, sem surpresas, obedientes ao comando do dever, todas as coisas nos seus lugares, como soldados em ordem unida, jamais permitindo que o corpo falte ao trabalho, ou que faça algo inesperado; nem é preciso dar uma volta ao mundo num barco a vela, bastar fazer o que fez a Shirley Valentine (se ainda não viu, veja o filme) ou ter um amor proibido ou, mais perigoso que tudo isso, a coragem de pensar o que nunca pensou.

Pensar é uma coisa muito perigosa... Não, saúde mental elas não tinham. Eram lúcidas demais para isso. Elas sabiam que o mundo é controlado pelos loucos e idosos de gravata. Sendo donos do poder, os loucos passam a ser os protótipos da saúde mental. Claro que nenhum dos nomes que citei sobreviveria aos testes psicológicos a que teria de se submeter se fosse pedir emprego numa empresa. Por outro lado, nunca ouvi falar de político que tivesse estresse ou depressão. Andam sempre fortes em passarelas pelas ruas da cidade, distribuindo sorrisos e certezas.

Sinto que meus pensamentos podem parecer pensamentos de louco e por isso apresso-me aos devidos esclarecimentos. Nós somos muito parecidos com computadores. O funcionamento dos computadores, como todo mundo sabe, requer a interação de duas partes. Uma delas chama-se hardware, literalmente "equipamento duro", e a outra denomina-se software, "equipamento macio". O hardware é constituído por todas as coisas sólidas com que o aparelho é feito.

O software é constituído por entidades "espirituais" - símbolos que formam os programas e são gravados nos disquetes.

Nós também temos um hardware e um software. O hardware são os nervos do cérebro, os neurônios, tudo aquilo que compõe o sistema nervoso. O software é constituído por uma série de programas que ficam gravados na memória. Do mesmo jeito como nos computadores, o que fica na memória são símbolos, entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo "espirituais", sendo que o programa mais importante é a linguagem.

Um computador pode enlouquecer por defeitos no hardware ou por defeitos no software. Nós também. Quando o nosso hardware fica louco há que se chamar psiquiatras e neurologistas, que virão com suas poções químicas e bisturis consertar o que se estragou. Quando o problema está no software, entretanto, poções e bisturis não funcionam. Não se conserta um programa com chave de fenda. Porque o software é feito de símbolos, somente símbolos podem entrar dentro dele.

Assim, para se lidar com o software há que se fazer uso dos símbolos. Por isso, quem trata das perturbações do software humano nunca se vale de recursos físicos para tal. Suas ferramentas são palavras, e eles podem ser poetas, humoristas, palhaços, escritores, gurus, amigos e até mesmo psicanalistas.

Acontece, entretanto, que esse computador que é o corpo humano tem uma peculiaridade que o diferencia dos outros: o seu hardware, o corpo, é sensível às coisas que o seu software produz. Pois não é isso que acontece conosco? Ouvimos uma música e choramos. Lemos os poemas eróticos de Drummond e o corpo fica excitado. Imagine um aparelho de som. Imagine que o toca-discos e os acessórios, o hardware, tenham a capacidade de ouvir a música que ele toca e se comover. Imagine mais, que a beleza é tão grande que o hardware não a comporta e se arrebenta de emoção! Pois foi isso que aconteceu com aquelas pessoas que citei no princípio: a música que saía de seu software era tão bonita que seu hardware não suportou.

Dados esses pressupostos teóricos, estamos agora em condições de oferecer uma receita que garantirá, àqueles que a seguirem à risca, saúde mental até o fim dos seus dias. Opte por um software modesto. Evite as coisas belas e comoventes. A beleza é perigosa para o hardware. Cuidado com a música. Brahms e Mahler são especialmente contra-indicados. Já o rock pode ser tomado à vontade.

Quanto às leituras, evite aquelas que fazem pensar. Há uma vasta literatura especializada em impedir o pensamento. Se há livros do doutor Lair Ribeiro, por que se arriscar a ler Saramago? Os jornais têm o mesmo efeito. Devem ser lidos diariamente. Como eles publicam diariamente sempre a mesma coisa com nomes e caras diferentes, fica garantido que o nosso software pensará sempre coisas iguais. E, aos domingos, não se esqueça do Silvio Santos e do Gugu Liberato.Seguindo essa receita você terá uma vida tranqüila, embora banal. Mas como você cultivou a insensibilidade, você não perceberá o quão banal ela é. E, em vez de ter o fim que tiveram as pessoas que mencionei, você se aposentará para, então, realizar os seus sonhos. Infelizmente, entretanto, quando chegar tal momento, você já terá se esquecido de como eles eram.