sábado, 24 de setembro de 2011

O 11 DE SETEMBRO E A CULTURA DE PAZ


Onze de setembro de 2001 foi um marco na história da humanidade tanto quanto a ascensão e declínio do império Romano, a segunda guerra mundial e a queda do muro de Berlim.  Todos estes  momentos,   marcam  uma transição de paradigma na história; após  cada uma dessas eras,  e acontecimentos,  o mundo se transformou:  do império  Romano  seguiu-se  inúmeros outros reinos que formaram os alicerces dos países que hoje existem  na Europa; da segunda guerra, começou-se a pensar o mundo de forma paradoxal – “o bem contra o mal”; com a queda da antiga União Soviética, o que se entendia por “mal” no mundo ocidental começou a se  misturar com os prazeres e valores ocidentais, logo,  pouco afeito ao estereótipo do mal. 


E o 11 de setembro? Bem, esta é uma história formada pelo conjunto das outras, visto que na base de todos estes conflitos, o que está por trás é o desejo de poder e  dinheiro, não necessariamente nesta ordem.  Com a queda do muro de Berlim, toda a paranóia construída em torno do comunismo começa a ficar sem sentido, pois o inimigo comum não mais se corporifica como uma ameaça.  O alvo dos Estados Unidos desloca-se para o Oriente Médio e a África com a meta de levar a "democracia" e o "espírito de liberdade"  a estes continentes.

Muitos países do ocidente ocuparam fisicamente países do oriente próximo, fincando bases militares no Afeganistão e no Iraque.  A fórmula ocidental de ocupação e controle é a mesma do modelo do  Império Romano, isto é, ocupar para dominar e ganhar.  O problema é que quando alguém obstrui a entrada de nossa casa e além disso nos diz como devemos viver dentro dela, nós temos duas alternativas: ou saímos “no pau” e resolvemos tirar a limpo esta questão ou, como é o caso,  resolvemos implantar o terror e jamais deixar dormir estes vizinhos indesejados. 

O que acontece hoje no mundo é reflexo de posturas beligerantes e intolerantes que marcaram o  início da civilização. O paradigma que nos orienta ainda é próximo a uma era pré-civilizada, isto é,  a era  da lei de Talião:  “olho por olho, dente por dente”. Neste percurso,  teremos um mundo cego e sem dentes dentre pouco tempo.
     


Lembro-me da poesia de Walt Whitman: “Ninguém pode ganhar por outrem – nenhum / nenhum pode crescer por outro – ninguém. / O canto é do cantor e a ele retorna mais / o ensino é do professor e a ele retorna mais,  / o assassínio é do assassino  e a ele retorna mais...”

O que vemos hoje é a lei de Talião corporificada nos gestos. O trânsito é a prova cabal disso: manda quem tem tamanho, obedece quem tem sorte ou esperteza. O tamanho do meu automóvel denota o poder do meu império. O que nos falta é uma cultura de paz que nos possibilite implantar o amor aonde existe a diferença. A guerra ao terror certamente gerará mais terror. “o assassínio é do assassino e a ele retorna mais”.  Alguns movimentos, como o dos familiares das vítimas do 11 de setembro,  fizeram  o sentido inverso ao que o presidente americano havia proposto e foram ao Afeganistão  fundar associações de ajudas a mulheres e crianças daquele país.  Isso é cultura de paz. 

 Quando opto por deixar meu carro em casa, abdicar do seu status, seu poderiu econômico e sua força, também estou implantando uma cultura de paz.  Uma pessoa que anda de bicicleta não tem o poder como ícone, nem o status como garantia de auto-estima, mas faz a diferença necessária e urgente no mundo atual.  O ser humano precisa lembrar a cada dia as sábias palavras de Viktor Frankl, psicólogo sobrevivente a três campos de concentração: “desde auschwitz sabemos do que o ser humano é capaz, desde Hiroshima e Nagasaki sabemos o que isso significa”.
A cultura de paz começa com nossos pequenos e pacíficos gestos como andar de bicicleta.
Paz!