terça-feira, 24 de abril de 2018

A RARIDADE DO AMOR E O FIM NAS SEPARAÇÕES

Felipe André Aço

"Enquanto não atravessarmos a dor da nossa própria
 solidão, continuaremos a nos buscarmos em outras
metades. Para viver a dois,
antes é necessário ser um."
Fernando Pessoa

Diz o mito do Andrógino descrito no Banquete de Platão que  estes eram seres completos que  após serem divididos por Zeus entraram em desespero em busca de sua metade perdida... A carência, fruto da separação era tanta que quando as duas metades  se encontravam, elas se abraçavam até morrer de inanição  ou   desespero  por medo de voltar a se  perder. Foi só por conta disso que Zeus resolver criar os órgãos genitais que pudessem então copular propiciando que em um lapso de tempo que fosse os dois pudessem ter uma sensação da sublime inteireza.

 Nem todo o relacionamento, casamento, conjunção ou namoro comporta isto que costumamos chamar deAmor.  Amor esta palavra repetida em cantos, poesias, liturgias encenações e que, parodiando Cecília Meireles, “não há ninguém que não entenda e ninguém que o possa explicar”,  é um sentimento do sublime.  Por isso não se pode amar muitas vezes na vida,  pois só alça o sublime quem tem os pés bem assentados sobre o chão. Ele está no hiato entre o repouso e o êxtase.  O  sublime é um estado de plenitude vivido em alguns poucos momentos de nossa existência, remonta talvez aquele  aconchego uterino em que estávamos em total fusão com nossas mães e que vivenciávamos a completude.  Não é à toa que muitas mães relatam o momento da gravidez como aquele em que se sentem mais completas.  De certa forma a gravidez é a experiência do andrógino.  A mulher no final da gravidez tem duas cabeças, quadro braços, quatro pernas, etc.... Ela é tão poderosa quanto os seres andróginos eram.

Também a experiência de amor maduro joga os amantes no universo do paraíso infantil.  Na linguagem dos casais:  “Paizinho”, “mamãezinha”, “queridinha” ou “inho” expõe o desejo de uma plenitude  infantil perdida no decorrer da existência com o outro.  A busca pela completude nunca cessa,  embora a experiência da paixão por vezes pareça dar  fim a busca da “cara metade”.  Mas paixão não é amor embora se nutra deste sentimento para existir.

Amor é paz,  paixão é  êxtase, um tipo de amor com medo da perda.  Por isso  que Freud nos dizia  que nunca se está tão desamparado quanto na experiência da paixão. E aqui, Freud se referia ao amor do apaixonamento. Esse mesmo da sensação de plenitude  pela complementação. O amor, pelo contrário, não tem medo, pois a experiência amorosa implica a segurança, confiança e garantia que o outro lhe dá, mesmo sem você necessitar ou sequer  pedir, mas por você ser um pouco no outro e outro um pouco em você. Logo,  o amor é uma experiência de paz quando correspondido.

Em um primeiro momento da relação, quando a paixão ainda viceja, não há como perceber as fragilidades de um relação  sem plenitude, pois  o viço de uma nova possibilidade de fusão com o outro faz parecer que o “universo conspira a seu favor” e o medo é uma constante proporcional ao desejo.  Falta de fome, de sono, de ar? Não é amor, mas medo  que aquele momento de êxtase acabe, destino trágico de qualquer amante.  Assim como era trágica a morte dos andróginos  divididos que reencontravam a sua metade, o medo era tanto que morriam abraçados.

Mas nos relacionamentos que se vão, após 5, 10 ou 20 anos juntos, o fervor da  paixão já não existe. Por isso que as traições neste momento são tão doloridas, pois são traições de sentimento  que quebra a paz, a  confiança e a cumplicidade  que justificam sua existência na entrega incondicional  ao outro. Aquela inteireza,  confiança e  segurança que faz dormir abraçado, que chama para um cafuné,  um beijo na nuca, um cheiro ou um toque gratuito.

A vivência  do amor nunca foi a mesma da paixão, embora possam dividir os mesmos sentimentos. O amor implica o contato entre dois inteiros  que buscam ser algo melhor juntos e não duas metades que necessitam estar unidas  para sobre-viver. As relações que se vão, são remanescentes das paixões que não se transformaram em amor ou de indivíduos que não se permitiram ser o que são para amar.  O amor é escolha, logo  implica exclusividade. A paixão, pelo contrário, nutre-se do erotismo sensual e deseja o contato como forma de completude, gratificação e prazer.   Como as sensações são intensas e poderosas, o medo do desamparo do fim também são grandiosos.

Existem  muitos mais apaixonamentos do que amores... Aliás, O AMOR É COISA RARA. Embora a sensação de amor possa ser vivenciada nas relações fortuitas, intensas e sensuais, ela é só uma nuance de preenchimento de um vazio. Amar é ser COM e PELO do outro. Como é com e pelo outro que se ama um filho. Amar é ir além de si mesmo, transcender.   Amar POR CAUSA do outro traz a angústia da dependência que joga o amante no paraíso perdido da fusão materna que nunca mais existirá....  

Embora costume-se dizer que todos procuram uma “alma gêmea”, no cotidiano dos encontros, os opostos ainda são maioria. No entanto, nem todos os relacionamentos são baseados nesta diferença.  Costuma ser comum às pessoas admirar  outras naquilo que  elas próprias não tem.  A admiração é um balizador para o amor, mas não é o único, também o caráter,  amizade  e projetos comuns são fortes parâmetros para o amor.  Na admiração, não raras vezes as qualidades admiradas serão as mesmas que levam ao fim da relação. Aquilo que admirava no outro tornam-se diferenças irreconciliáveis.  Isso acontece porque há uma busca de complementariedade, uma relação dividida
almejando o preenchimento mútuo, mas que quando
 alcançado, parece abrir outros buracos...

A atração do amor é aquela de dois inteiros: um ser com corpo e alma. Não somente corpo, tão pouco só a alma.  Por isso os AMORES são raros:    há muitos vazios ansiando por preenchimento,  mas  poucos inteiros dispostos a transcender a si através do outro.

quarta-feira, 16 de março de 2016

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

RELACIONAMENTOS

Auguste Rodin
Sempre acho que namoro, casamento, romance, tem começo, meio e fim. Como tudo na vida. 
Detesto quando escuto aquela conversa:
- Ah, terminei o namoro...
- Nossa, estavam juntos há tanto tempo...
- Cinco anos.... que pena... acabou...
- é... não deu certo...
Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou. E o bom da vida, é que você pode ter vários amores.
Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se somam.
Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar cem por cento do outro?
E não temos essa coisa completa.
Às vezes ela é fiel, mas é devagar na cama.
Às vezes ele é carinhoso, mas não é fiel.
Às vezes ele é atencioso, mas não é trabalhador.
Às vezes ela é muito bonita, mas não é sensível.
Tudo junto, não vamos encontrar.
Perceba qual o aspecto mais importante para você e invista nele.
Pele é um bicho traiçoeiro. Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que é uma delícia.

"The kiss"  Auguste Rodin
E às vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona...
Acho que o beijo é importante... e se o beijo bate... se joga... se não bate... mais um Martini, por favor... e vá dar uma volta.
Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra. O outro tem o direito de não te querer.Não brigue, não ligue, não dê pití. Se a pessoa tá com dúvidas, problema dela,
cabe a você esperar... ou não.
Existe gente que precisa da ausência para querer a presença.
O ser humano não é absoluto.

Ele titubeia, tem dúvidas e medos, mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta. Nada de drama.
Que graça tem alguém do seu lado sob pressão?
O legal é alguém que está com você, só por você. E vice-versa. Não fique com alguém por pena. Ou por medo da solidão. Nascemos sós. Morremos sós.
Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado. E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento.
Tem gente que pula de um romance para o outro.
Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia?


"The Danaid" Camille Claudel
Gostar dói. Muitas vezes você vai sentir raiva, ciúmes, ódio, frustração... Faz parte. Você convive com outro ser, um outro mundo, um outro universo.
E nem sempre as coisas são como você gostaria que fosse... A pior coisa é gente que tem medo de se envolver.
Se alguém vier com este papo, corra, afinal você não é terapeuta. Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível.
Na vida e no amor, não temos garantias.
Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar. Nem todo beijo é para romancear. 
E nem todo sexo bom é para descartar... ou se apaixonar... ou se culpar...
Enfim, viva o momento, se for pra ser o tempo coloca as coisas nos seus devidos lugares. 

Ailin Aleixo

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Pedalar e mudar



Esta é a tua vida
Faça o que você gosta
E faça-o com frequência
Se você não gosta de algo
Mude!
Se você não gosta do teu emprego
Peça demissão!
Se você não tem tempo suficiente
Pare de assistir TV!
Se você está procurando o amor da tua vida
Pare!
Eles estão esperando por você
Quando você começar a fazer as coisas que você ama.
Pare de super analisar!
A vida é simples.
Abra tua mente, braços e o teu coração
Para novas coisas e pessoas.
Nós somos unidos em nossas diferenças.
Algumas oportunidades só aparecem uma vez.
Aproveite-as!
Viaje com frequência.
Fica perdido ajudará você a se encontrar.
Todas as emoções são bonitas
Quando você comer,
Aprecie cada mordida.
Pergunte a próxima pessoa
Se você vê qual é a paixão dela.
Compartilhe seu sonho inspirador com eles!
A vida é sobre as pessoas que você encontra
E as coisas que você cria com eles.
Então saia e comece a criar!
A vida é curta.
Viva teu sonho
E compartilhe tua paixão.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

sábado, 22 de setembro de 2012

Reflexão sobre o dia mundial sem Carro

Iniciado na França ainda na década de 90, o dia Mundial Sem Carro visa conscientizar as pessoas sobre a emissão de gás carbônico e o modelo de desenvolvimento baseado no automóvel. Hoje o Brasil tem algo próximo a 50 milhões de veículos; em alguns locais como a cidade de Caxias do Sul na serra Gaúcha existe um automóvel para cada duas pessoas o que, isentando-se as crianças e adolescentes que acredita-se não tenham carro, significa dizer que muitos tem mais de um automóvel, o que é de uma ilogicidade tremenda. 

Em uma época em que se fala em sustentabilidade, o automóvel é, e sempre foi, o exemplo maior de desperdício energético. Uma pessoa como eu que tem por volta de 65 kg utiliza cerca de 1% da energia do automóvel para se locomover; os outros 99% é utilizado para mover o próprio automóvel. Se o Brasil como um todo tivesse um automóvel para cada duas pessoas estaríamos em colapso a muito tempo. Os Estados Unidos detém a maior frota de veículos do mundo, só não entrou em colapso ainda porque a matéria prima vem de países periféricos, não do seu próprio território.

A impressão que temos é que também estamos em colapso e estamos, principalmente em termos sociais. A frota de automóveis movidos a álcool e gasolina do país gasta 2,5 vezes a mais do que o transporte à diesel e transporta 12% da população. Isto é, 88% da população utiliza menos da metade da energia consumida por um pouco mais de 10% da população. Não sou um ativista lutando contra o automóvel inconseqüentemente, até porque sei dos avanços e dos benefícios que o mesmo trouxe à civilização, mas tenho que me basear nos fatos e refletir sobre os mesmos. O automóvel é um câncer maligno que à título de regeneração está destruindo todas as outras células do nosso corpo terra.

Certa vez um cientista, falando a uma platéia de ávidos alunos propõe a seguinte questão: imaginem a criação de uma nova invenção que aumentará a eficiência e a mobilidade de todos tornando a vida mais fácil. O único lado negativo, alerta o cientista, é que para esta invenção funcionar, 50 mil pessoas inocentes terão que morrer a cada ano. O que fariam os políticos? Adotariam tal invenção?

Os alunos estavam prestes a dizer que tal proposição seria completamente rejeitada quando o professor argumentou: -“Esta invenção já existe e se chama automóvel!”.
Pois é, o fato é que além dos prejuízos econômicos, sociais, psicológicos e ambientais o automóvel se converteu em uma das piores armas já inventadas. É uma guerra do Vietnã a cada ano. Desafio alguém dizer que não conhece ou não conheceu alguém que foi vítima do trânsito.

Vivemos em uma sociedade onde se mitificou e sacralizou o automóvel. Ele representa muito mais do que um simples e singelo instrumento de locomoção. É o status para o jovem, a vitrine para o profissional liberal o hobby para o executivo, vedete para madame, etc. Todos estes adjetivos são intercambiáveis.

Não é de espantar, portanto, que boa parte da classe média brasileira invista mais em seu automóvel do que investe em sua casa ou mesmo na educação de seus filhos. O carro vale muito mais do que sua representação venal. Ele é um símbolo de status, poder, virilidade, maturidade e realização. Não é por acaso que as SUV’s são recordistas em vendas (muito embora também o sejam em acidentes), pois tem uma significação de superioridade, autoridade e poder que vai além dos outros automóveis.

As pessoas não compram mais um automóvel, elas satisfazem um desejo. Desejo esse que não é autentico, mas é a representação de um ideal social: “Serei feliz se tiver este objeto!”. É impressionante como a geração do consumo, que tem pouco mais de 50 anos, é refém da publicidade. Somos condicionados a amar determinado carro, pois este está associado com determinada beldade. Ou a comprar determinada cerveja, pois esta representa o brilho e a festa que eu mais desejo ou, por outra, apreciar determinado refrigerante, pois este apóia a minha liberdade e fantasia. Aliás, liberdade é o marketing principal para a utilização do automóvel: ter autonomia, poder ir e vir. Certamente os marketeiros não falam sobre a possibilidade de ir e vir em uma metrópole como São Paulo por exemplo.

As pessoas precisariam aprender que a felicidade não se acha nas coisas, mas talvez estejamos por demais imbricados no meio social para conseguirmos perceber isso. Passamos 2/3 de nossa vida lutando para adquirir coisas e outro terço tentando se curar da ganância e das conseqüentes doenças do stress adquiridas neste tempo de conquista. Entre a conquista e as doenças talvez consigamos sobreviver, mas jamais viver.

O Chefe Seattle em 1854 já anunciava que “todas as coisas estão ligadas” . Se hoje podemos caminhar na terra deve-se a uma complexa conjunção de fatores bioquímicos que possibilitaram que este planeta não fosse uma imensa bola de fogo. Da mesma forma, se hoje temos condições de se alimentar é porque existe um ser capaz de armazenar energia do sol. Reverenciem as abelhas, pois se não fossem elas, muito pouca diversidade de plantas teríamos na terra. Aplaudam os fitoplânctons, pois eles possibilitam a existência de oxigênio na atmosfera. O Chefe Seattle que talvez tenha sido o primeiro ecologista de fato, já anunciava no século XIX que “o que acontecer a terra, acontecerá aos filhos da terra!”. O fato é que nós, seres racionais e humanos, continuamos a acreditar que somos o centro do universo e que, portanto, este deve nos servir.

É importante falarmos de energias renováveis, mas antes deveríamos falar em vidas renovadas. O problema da energia não é o da fonte, mas dos detritos. Enquanto acreditarmos que não temos nada a ver com os dejetos que nós mesmos produzimos, que não somos responsáveis por aquilo que descartamos, continuaremos utilizando o automóvel indiscriminadamente. A lógica ingênua de nossa civilização é a de acreditar que basta ter o meu quintal arrumado que tudo está bem. Se existe um ninho de ratazanas se desenvolvendo no quintal do vizinho isso não é da minha conta. Somos responsáveis não só por nossa própria vida, mas pela de nosso planeta.

 Políticos ignoram aprender com quem já está além no desenvolvimento urbano, tais como Nova York, Bogotá, Paris, Amsterdam, Londres, etc. O que há em comum entre estas cidades? Todas elas partiram do pressuposto de que para haver desenvolvimento humano as cidades devem ser para as pessoas, não para os carros. Logo, a lógica foi fechar as ruas para os carros e abri-las para as pessoas, as bicicletas e o transporte coletivo. Resultado? Qualidade de Vida.
 As autoridades referendam a premissa traiçoeira do desenvolvimento econômico a qualquer preço.  Precisamos de desenvolvimento humano, mas nunca a qualquer preço: cidades mais HUMANAS em que as pessoas estejam em contato com a natureza e que as vias sejam espaços de prioridade  para a vida, não para os carros. Já repararam como é tratado o pedestre e o ciclista nas ruas? Não! Definitivamente, hoje  as estradas não são para as pessoas. Certamente alguns poucos audazes e corajosos arriscam-se pedalando pelas cidades,  não são muitos, mas certamente não estão sós.

 Refletir sobre uma sociedade sem carro possibilita pensar em uma vida em harmonia com o universo. Somos parte e ao mesmo tempo o todo do nosso  planeta. Talvez, por isso,  devêssemos pensar qual a nossa responsabilidade. Será através do gesto, da mudança de hábito, da divulgação de um estilo de vida mais saudável? Bom, de qualquer forma vou tirar a minha bicicleta da garagem.  
                                                                                                     Felipe André Aço





domingo, 5 de agosto de 2012

SENSUALIDADE

                


A sensualidade que  emana                                     Transborda das               
imagens de alma,              
que algum registro do 
desejo
deixou...
                           Felipe Aço

domingo, 29 de julho de 2012

MUDE


Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa. Mais tarde, mude de mesa.

Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua. Depois, mude de caminho, ande por outras ruas, calmamente, observando com atenção os lugares por onde você passa.

Tome outros ônibus.

Mude por uns tempos o estilo das roupas. Dê os seus sapatos velhos. Procure andar descalço alguns dias. Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia, ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos.

Veja o mundo de outras perspectivas.

Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda. Durma no outro lado da cama... Depois, procure dormir em outras camas. Assista a outros programas de tv, compre outros jornais... leia outros livros.

Viva outros romances.
Não faça do hábito um estilo de vida. Ame a novidade. Durma mais tarde.
Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes, novos temperos, novas cores, novas delícias.
Tente o novo todo dia. O novo lado, o novo método, o novo sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor.
A nova vida. Tente. Busque novos amigos.
Tente novos amores. Faça novas relações.
Almoce em outros locais, vá a outros restaurantes, tome outro tipo de bebida, compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa.
Escolha outro mercado... outra marca de sabonete, outro creme dental... Tome banho em novos horários.
Use canetas de outras cores. Vá passear em outros lugares.
Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes.
Troque de bolsa, de carteira, de malas, troque de carro, compre novos óculos, escreva outras poesias.
Jogue os velhos relógios, quebre delicadamente esses horrorosos despertadores.
Abra conta em outro banco. Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros, outros teatros, visite novos museus.
Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só. E pense seriamente em arrumar um outro emprego, uma nova ocupação, um trabalho mais light, mais prazeroso, mais digno, mais humano.
Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as.
Seja criativo.
E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa, se possível sem destino. Experimente coisas novas. Troque novamente. Mude, de novo.
Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores do que as já conhecidas, mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia. Só o que está morto não muda !
Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não
vale a pena! 
Edson Marques
www.edsonmarques.com


INCIVILIDADE, TRÂNSITO E (NÓS?) OS CULPADOS.


A música de Chico Buarque nos alça a flutuar  “como um se fosse um príncipe”; expondo o que todos nós já sentíamos, mas que nem sempre conseguimos expressar,  que é o fato de que a rua como espaço público, igualitário, no Brasil não é de todos.  Podemos imaginar ser um príncipe com seu séquito de seguranças e sua limusine blindada, mas, se por um infortúnio da vida somarmo-nos as estatísticas  das vítimas do  asfalto a ferros neste país, não seremos mais do que  um número no rol de perdas (necessárias?) do trânsito.

A música retrata algo que o antropólogo Roberto DaMatta apontou em seu estudo sobre o trânsito[1] em que  mostra  como aprendemos, tacitamente,  a hierarquia do espaço público. Em outras palavras, aprendemos que as ruas são  de todos os iguais, mas com a ressalva que “alguns são mais iguais que outros”.  Nossa herança aristocrática  conduz-nos por ruas onde existir significa ser visto e “preferencial” é a condição de quem pode,  não daquele comum que trafega quase pedindo licença e acenando alguma deferência, como o pobre o ciclista ou pedestre.  No trânsito vale mais quem tem tamanho e marca. Não é à toa que as SUVs são preferência do público, seu status é superior em luxo e tamanho.

A imprudência e a incivilidade do trânsito no Brasil decorre da ausência de uma visão igualitária de mundo. Em um espaço comum como as ruas, costumamos  reproduzir nossos mais primitivos instintos psicológicos; a saber: o individualismo, a competitividade e a agressão. Tal qual um nenê, queremos ser o “centro do mundo”, buscar o nosso prazer a qualquer custo e disputar espaço nem que isso envolva tirar o que é do outro ou “jogar” o nosso carro sobre  o pedestre, ciclista, motociclista ou os carros “inferiores” e desqualificados por sua marca,  ano de fabricação ou tamanho.  

A situação se torna verdadeiramente grave quando percebemos que esta conduta não amadurece conforme os anos vão passando.  O que pode justificar isto, visto que crescer e amadurecer, biopsicologicamente,  não é uma opção, mas uma condição da vida?   Voltemos a DaMatta que nos aponta um outro viés do comportamento do brasileiro que talvez explique esta conduta imatura  no trânsito: a congênita prática de desrespeito às leis.

Este é um aspecto  contraditório , pois qualquer pesquisa com motoristas no Brasil aponta o não cumprimento das leis e a impunidade como um dos fatores geradores do caos. O mais intrigante é que a maior parte destes motoristas entende que a fiscalização deva ser mais efetiva sobre os outros, mas se sente extremamente ofendido quando é interpelado, pois aguarda em fila dupla o filho que sai da escola ou transita pela ciclovia ou pela direita que está vazia ou, ainda, quando é multado por estacionar em cima da calçada quando não ia demorar mais do que poucos minutos. 

O fato é que há uma dificuldade imensa do brasileiro em obedecer às leis. A subordinação é tida por estes como uma inferiorização, pois aqui historicamente atrelamos as leis a quem deve subserviência  que,  no imaginário social, significa  ser o trabalhador braçal (o escravo no Brasil imperial).  Às elites, tidas aqui como qualquer ator da classe média ou alta mandam. Despreza-se a questão óbvia de que aquele que manda também deve obediência as leis que regem a convivência social, principalmente na representação maior desta convivência que é o trânsito.  O fato é que boa parte das leis que orientam  esta  convivência social não foram introjetadas, isto é, tornadas verdades para cada um. A fala que vem dos nossos motoristas costuma apresentar a idéia de que cada um “respeita” o trânsito. Hora, respeitar não é o mesmo que obedecer, esta condição pode estar atrelada ao meu “bom humor” ou a existência de um fiscal de trânsito à minha frente, mas não é necessariamente uma conduta internalizada (ou visceral).   
                
Não é somente aumentando o número de fiscais ou  reforçando a punição que resolverei o problema do trânsito no Brasil, mas é sim criando  políticas de educação para trânsito que contemple o motorista, o pedestre, o ciclista, motociclista, caminhoneiro, a criança, etc. Todos fazemos parte deste universo modal e a forma como atuamos neste campo, diz muito de nosso jeito de ser, de nossa cultura.  Culpamos muitas vezes,   com razão,  o governo pelo extermínio compulsivo de vidas que ele promove, mas assim o fazendo nos eximimos de culpa deslocando a responsabilidade para o outro.
              
Mas o fato é que somos tão culpados quanto nossos  vizinhos que marcadamente usam o trânsito como  expressão de poder, pois referendamos um jeito de ser motorista nos nossos pequenos gestos de intolerância e de hierarquização do espaço público.  A humildade é um exercício  de autoconhecimento, pena que poucos  conseguem usar desta prática no trânsito.

O carro se transformou  no melhor exemplo de um comportamento cultural...Ele é a marca de nossas diferenças , tanto pelo estilo quanto pela forma que o utilizamos. Enquanto não compreendermos que a nossa vida é única em uma sociedade que dependemos uns dos outros, continuaremos a dirigir como se fôssemos donos do espaço público sem entender que aquele que “morreu atrapalhando o tráfego” era mais uma vítima da nossa insensibilidade e ignorância.  


[1] “Fé em Deus e pé na tábua”.

JORNADA PARA DENTRO DE SI MESMO


Diz uma história antiga que uma pessoa foi para o céu e lá chegando foi colocada diante do tribunal de Deus que então a inquiriu:  Quem é você? Pergunta fática, existencial. Ela prontamente respondeu:  sou a mulher do prefeito municipal. Perguntei quem és tu, não quem é o teu marido. – Sou mãe de quatro filhos... Não quero saber quantos filhos tivestes. Quem és tu? Sou uma mulher cristã. – Não quero saber qual a tua religião.  – Sou uma pessoa que vai a missa e que auxilia os pobres e necessitados... E assim, sucessivamente as perguntas se desenrolavam sem que a mulher conseguisse responder quem era ela.

 A pergunta é simples, mas as respostas são em geral  estereotipadas. O que fazemos, onde trabalhamos, com quem casamos, que classe social pertencemos ou religião cultuamos, etc... Não há tempo para pensar em quem verdadeiramente somos no mundo contemporâneo. O lucro é a meta, a pressa é a chave, o trabalho é  o meio. O saber de nós mesmos é tão efêmero como uma viagem de avião; transcorre-se um continente sem nem sequer  olhar, cheirar e alçar o calor e o brilho de cada lugar.

Muitos viajam para se “encontrar”, mas a viagem do turista  é bem diferente da do peregrino.  O primeiro,  busca encurtar a viagem para descobrir as belezas do destino, ao último importa a sensação do percurso para apreender do caminho. Saber de si é o exercício de desacelerar.      Nosso Ser Integral  não comporta a pressa da máquina, mas abarca o tempo do corpo na determinação do peregrino, na força do remador,  na precisão do arremesso  e no  impulso  do ciclista.   Pedalar é como um mantra, diria Antônio Olinto,  cicloturista que deu a volta ao  mundo de bicicleta. Quem entoa um mantra, assim como quem empreende uma viagem de bicicleta, ou a pé,  quer chegar ao seu destino, mas não como quem voa de um ponto ao outro do planeta contabilizando as horas "perdidas" no trajeto, mas como quem encontra no movimento seu infinito mais íntimo.   

Esse “infinito íntimo”  foi chamado por Viktor Frankl de núcleo Espiritual. Carl Gustav Jung chamou-o  de Arquétipo do Self, ou o Arquétipo da Totalidade. A espiritualidade para estes dois psicólogos europeus tem a ver com algo central  e dinâmico na vida de cada um. Nesta perspectiva, a idéia de um mantra proposto anteriormente,  toma outra dimensão que é o de trans-formação. Esta palavra, mais do que uma mudança de um estado a outro, significa um formar além,  ou uma formação em processo.

A espiritualidade é o mote e o motivo do peregrino. A todos  que ousam atravessar o “deserto” do mistério da vida, cabe o encontro com o sentido da integridade  que vincula  o ser ao  cosmos, àquilo que entendemos como o sentido ecológico da vida.  Não é a toa que tantos, e cada vez mais, se aventuram  pedalando e caminhando   numa busca solitária que resulta na ampliação da consciência.  A espiritualidade está no caminho, e ela não pode ser dada para  ninguém, mas deve ser desvelada por cada um.

Enganam-se aqueles que pensam que a espiritualidade  é o mesmo que religião, elas podem, e em alguns casos se complementam, mas jamais se confundem. A Espiritualidade existem desde  que o Ser Humano surgiu na Terra a mais de 200 mil anos. A religião não tem mais de que 8 mil anos. A religião é a institucionalização da espiritualidade, como a família  o é do amor. Na religião predomina a voz exterior da autoridade religiosa, na espiritualidade é a voz interior.   A religião culpabiliza,  a espiritualidade ensina a aprender com os erros. A religião ameaça, a espiritualidade encoraja. A religião surge com  o  sedentarismo;  a espiritualidade surge no caminho da transcendência, isto é, no caminho que leva cada pessoa além de si mesma. Ao caminho  que garanta o sentimento de pertencimento e que vincule  e interligue o indivíduo ao outro.  Espiritualidade  é a conjunção dos desejos do eu  com o destino do cosmos.  Aquele momento único e fortuito que nos sentimos completos e  em harmonia com o mundo.

Esse sentimento de plenitude, ou esse “infinito mais íntimo” pelo qual nos referimos  tem um nome de Deus. Mas ele não é, como comumente pensamos, fruto de uma crença, mas é o resultado de uma experiência individual e profunda. Como disse Jung,  quando questionado sobre se acreditava em Deus: “eu não acredito, eu sei”.  Deus é uma experiência de integralidade e totalidade. Ele não está nos céus, nas montanhas ou nos templos,  mas ele está no caminhos que criam pontes e geram plenitudes.

Não sabemos dizer quem somos, pois esquecemos de olhar para dentro. Cultuamos o nosso status, referenciamos o nosso dinheiro e cultivamos  nosso individualismo egoísta.  Resta-nos desejar que todos os peregrinos e pedalantes nos redimam de tanta inconsciência e nos auxiliem a nos “encontrar”.