Onze de setembro de 2001 foi um marco na história da humanidade tanto quanto a ascensão e declínio do império Romano, a segunda guerra mundial e a queda do muro de Berlim. Todos estes momentos, marcam uma transição de paradigma na história; após cada uma dessas eras, e acontecimentos, o mundo se transformou: do império Romano seguiu-se inúmeros outros reinos que formaram os alicerces dos países que hoje existem na Europa; da segunda guerra, começou-se a pensar o mundo de forma paradoxal – “o bem contra o mal”; com a queda da antiga União Soviética, o que se entendia por “mal” no mundo ocidental começou a se misturar com os prazeres e valores ocidentais, logo, pouco afeito ao estereótipo do mal.
E o 11 de setembro? Bem, esta é uma história formada pelo conjunto das outras, visto que na base de todos estes conflitos, o que está por trás é o desejo de poder e dinheiro, não necessariamente nesta ordem. Com a queda do muro de Berlim, toda a paranóia construída em torno do comunismo começa a ficar sem sentido, pois o inimigo comum não mais se corporifica como uma ameaça. O alvo dos Estados Unidos desloca-se para o Oriente Médio e a África com a meta de levar a "democracia" e o "espírito de liberdade" a estes continentes.
Muitos países do ocidente ocuparam fisicamente países do oriente próximo, fincando bases militares no Afeganistão e no Iraque. A fórmula ocidental de ocupação e controle é a mesma do modelo do Império Romano, isto é, ocupar para dominar e ganhar. O problema é que quando alguém obstrui a entrada de nossa casa e além disso nos diz como devemos viver dentro dela, nós temos duas alternativas: ou saímos “no pau” e resolvemos tirar a limpo esta questão ou, como é o caso, resolvemos implantar o terror e jamais deixar dormir estes vizinhos indesejados.
O que acontece hoje no mundo é reflexo de posturas beligerantes e intolerantes que marcaram o início da civilização. O paradigma que nos orienta ainda é próximo a uma era pré-civilizada, isto é, a era da lei de Talião: “olho por olho, dente por dente”. Neste percurso, teremos um mundo cego e sem dentes dentre pouco tempo.
Lembro-me da poesia de Walt Whitman: “Ninguém pode ganhar por outrem – nenhum / nenhum pode crescer por outro – ninguém. / O canto é do cantor e a ele retorna mais / o ensino é do professor e a ele retorna mais, / o assassínio é do assassino e a ele retorna mais...”
O que vemos hoje é a lei de Talião corporificada nos gestos. O trânsito é a prova cabal disso: manda quem tem tamanho, obedece quem tem sorte ou esperteza. O tamanho do meu automóvel denota o poder do meu império. O que nos falta é uma cultura de paz que nos possibilite implantar o amor aonde existe a diferença. A guerra ao terror certamente gerará mais terror. “o assassínio é do assassino e a ele retorna mais”. Alguns movimentos, como o dos familiares das vítimas do 11 de setembro, fizeram o sentido inverso ao que o presidente americano havia proposto e foram ao Afeganistão fundar associações de ajudas a mulheres e crianças daquele país. Isso é cultura de paz.
Quando opto por deixar meu carro em casa, abdicar do seu status, seu poderiu econômico e sua força, também estou implantando uma cultura de paz. Uma pessoa que anda de bicicleta não tem o poder como ícone, nem o status como garantia de auto-estima, mas faz a diferença necessária e urgente no mundo atual. O ser humano precisa lembrar a cada dia as sábias palavras de Viktor Frankl, psicólogo sobrevivente a três campos de concentração: “desde auschwitz sabemos do que o ser humano é capaz, desde Hiroshima e Nagasaki sabemos o que isso significa”.
A cultura de paz começa com nossos pequenos e pacíficos gestos como andar de bicicleta.
Paz!
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