quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Bicicletas e a Civilização

Somos uma sociedade em constante evolução, a muito deixamos a barbárie dos “homens das cavernas” e aprendemos a con-viver para poder viver melhor, com mais segurança e qualidade. É por conta da convivência que o ser humano se civilizou e formou suas cidades que, aliás, tem a mesma raiz etimológica da palavra civilização.
Os caminhos pelos quais o ser humano conquistou esta civilização é que mudou conforme o local e a época sendo que para alguns países a civilidade tem a ver com acesso a todas as necessidades básicas seja de saúde, educação e alimento, mas pouco acesso as decisões políticas. Outros, a civilização está marcada pela liberdade individual, mas pouco relacionado a garantias sociais.


O intrigante na busca desta civilidade é percebermos o quanto o irracional e o bárbaro convivem e até confundem-se com o humano moral da civilização. Viver na cidade, civilizadamente, significou poder usufruir de todas as garantias sociais. Como em nossa sociedade brasileira estas garantias historicamente se restringiram a uma elite que podiam criar leis em benefício próprio, rapidamente entendeu-se que civilizado era quem detinha os direitos sociais. Foi fácil relacionar o modelo de polidez e educação, apregoado pela civilização, ao êxito e ao sucesso. Logo, ser moderno e civilizado significou poder usufruir de todos os direitos sociais principalmente o de consumir e exibir os seus bens.


Esta lógica de ser civilizado somente aquele que detém as garantias sociais, atrelado a tradição histórica na qual as elites pensam e mandam enquanto o povo executa o trabalho braçal, fez surgir uma sociedade em que se vinculou o pensar a elite e o trabalho braçal ao povo “que não deve pensar”. Não é difícil entender porque a bicicleta não “pegou” para imensa maioria da população brasileira, ela exige movimento corporal, suor e força para funcionar. As elites não fazem força, elas delegam esta força para outros ou, para se locomover, compram um carro. Este, aliás, sempre foi o cartão de visitas das elites nacionais, pois está envolto em uma aura de poder e sucesso.


A propaganda, ainda hoje veiculada na mídia, não diz que o “brasileiro é apaixonado por carro?” De fato todos nós precisamos de reconhecimento, e o carro em boa parte do mundo e particularmente no Brasil, sempre foi a vitrine. Infelizmente, poucos se deram conta de que, como todas as vitrines, as paredes são de vidro, quebram e mancham com o primeiro sopro de vida verdadeira.


A concepção de que o carro é o homônimo da civilização é tão arraigada em nossa cultura nacional que praticamente não existem governantes discutindo uma outra forma de mobilidade. Continuamos, como na década de 60, construindo estradas, privatizando-as, e deitando felizes achando que estamos no caminho da modernidade.


Para termos uma idéia do que significou esta mentalidade, e o atraso civilizatório que ela nos delegou, é interessante ver um vídeo da Holanda na década de 50. A relação do holandês com a bicicleta é antiga, mas podemos ver que desde esta década a preocupação com as ciclovias, os estacionamentos e a mobilidade já eram presentes. Pensei em sugerir que nossos políticos fizessem um estágio na Holanda antes de assumirem cargos públicos, mas desconfio que isso seria inócuo dada a pouca capacidade de reflexão da maior parte deles.



Fiquem em Paz!




Felipe André Aço

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