quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A DOENÇA COMO CURA

“Por isso, se quiser que a cabeça e o corpo estejam bem, 
você deve começar curando a alma”.
Platão
Frida Kahlo



“A  Imagem é sempre pior que o trauma!”
 Esta frase, ouvida de um oficial do corpo de bombeiros, se refere provavelmente, aos golpes externos da violência quotidiana, pelo qual eles são freqüentemente convocados a intervir. Trazendo esta afirmação para o âmbito da psicologia, podemos entender o trauma  como uma cisão ou ruptura provocada por forças internas divergentes; e a imagem como a doença que se estabeleceu a partir da angústia do conflito. Para um corpo doente, no entanto, a relação é inversa, isto é, o trauma é pior do que a imagem ou, para sermos mais técnicos, é pior do que o sintoma que se estabelece.
Esta idéia nos parece contraditória, visto que é no sintoma que manifestamos a nossa dor. É através do sintoma que desvelamos a nossa sombra (nosso lado frágil), e é por causa do sintoma que normalmente as pessoas procuram ajuda. O conflito em geral é dissociado da doença, não por vontade ou necessidade do sujeito, mas porque este conflito, ou trauma, nem sempre é conhecido.
O vocábulo sintoma vem do grego sýmptoma e significa sinal, algo que anuncia uma desorganização na totalidade da vida de da pessoa. Sin-toma é a resposta que a alma dá a um desequilíbrio gerado por uma angústia não mentalizada ou, como se diz, “não-resolvida”. A doença, neste contexto psicológico, é uma tentativa de nossa psique em resolver algum conflito que delegou uma angústia não consciente, porquanto presente. É na tentativa de não sofrermos esta angústia que nosso  corpo adoece. Ele busca no sintoma uma forma de representar o não-dito, ou o mal-dito, aquilo que pulsa nos labirintos da alma e exige um reconhecimento, uma gratificação.
Desta forma, a doença aparece como um tentativa de cura. A palavra cura significa cuidado, atenção à singularidade qu é a vida humana. Pela incapacidade de trazer à consciência os símbolos de sua alma, o próprio  corpo se encarrega de reprsenar a falta e o conflito. Assim surge a asma, a úlcera, vários tipos de doenças de pele  e a enxaaqueca. Não é difícil  descobrir em muitos ataques de asma a incapacidade do sujeito em assimilar o seu quotidiano presente. Tão pouco é raro descobrir no ulceroso sua insufiente elaboração de conteúdos guardados; e a fraqueza nos relacionamentos interpessoais dos pacientees com dermatites. Um fundo depressivo no paciente com enxaqueca? Baixa auto-estima? Desilusão? Quem sabe....
Carl Gustav Jung, psicólogo suíço, dizia que o pior pecado de todos é a inconsciência. A pior alta que podemos cometer é não saber do que sofremos. Sofrer de não saber sofrer...Podemos entender a sintomatologia que nos acomete e sentir a dor que nos corrói, mas se não nos conscientizarmos das nossas fraquezas, e não aprendermos com o nosso limite, morreremos de um sinal que nos queria salvar. Nietzsche dizia que a doença o havia libertado, pois devolveu-lhe a coragem de enfrentar a si mesmo: “Devido a doença sou capaz de pensar e seentir de modo totalmente diferente.”. Este é o princípio do recomeço, o fim de um ciclo e o início de outro. Jung, após um enfarto aos sessenta e nove anos declara: “consigo agora perceber que não posso recuar diante do incompreensível. Uma derrota pode ser ao mesmo tempo uma vitória”. É no limite do corpo que reconhecemos a amplidão de nossa alma.
Felipe André Aço
2006

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