domingo, 3 de outubro de 2010

Sobre Tempo, Ecologia e Bicicleta

                                                                                                                                      
                                                                  
              Se existe alguma criação humana que mais se integre ao meio onde vivemos, esta coisa só pode ser a bicicleta. O progresso, já diziam os estudiosos da ciência, exige sacrifícios. Infelizmente, em nossa era esse sacrifício concretizou-se em desmatamentos, poluições, acúmulo de lixo, energia suja, mazelas sociais, empobrecimento, etc. A terra tem pago um preço muito elevado e ainda são poucos os que têm aquela consciência do índio Seatle que disse: “Tudo que acontecer a terra acontecerá aos filhos da Terra”. 

                  A humanidade caminha na contramão da vida. Ao invés de pensarmos na preservação das florestas, mares e pântanos; queimamos as árvores, jogamos toda a espécie de detrito no mar e assoreamos os pântanos. Jamais vi na televisão um governo baixar o IPI das bicicletas, tão pouco vejo algum programa de governo que incremente a construção de ciclovias na cidade. Por outro lado, vejo redução de impostos para a produção e comercialização de carros, incentivo a exploração imobiliária em áreas de preservação, incremento das industrias sem o devido controle sobre a poluição gerada.

        Nem sempre dá “tempo” para percebermos o que está acontecendo com o nosso planeta. Aliás, tempo é algo difícil de mensurar em nossos tempos (desculpando o trocadilho). Ninguém tem tempo! Nosso tempo é o dos bits, dos Mega e Gigabytes, dos supersônicos, jatos e carros. Ninguém tem tempo para enxergar o que aí está, pois vivemos as presas num carro vazio, numa conexão rápida e em relações efêmeras. Esse mesmo tempo que não temos, faz a vida passar muito rápida diante de nossos olhos. Paisagens invisíveis, imagens fugidias.... Não capturamos nada....A vida vai e com ela o nosso planeta, o nosso continente, o nosso país, o estado, a cidade, o bairro, a rua, nossa própria alma.

         Não há como perceber o mundo quando não nos comprometemos com ele. A experiência de pedalar é algo tão sutil que mesmo sem perceber, tomamo-nos como que integrados a natureza: sentindo as paisagens, considerando os pedestres, cuidando o lixo jogado, etc. O tempo do pedal não é o mesmo do cilindro. O ciclista está inteiro seja onde estiver. “Para ser grande, sê inteiro”, dizia o poeta. Para ser inteiro, há que se respeitar a integridade maior que é essa nossa mãe Terra desprezada, humilhada, mas ainda assim, linda e gloriosa.


        Os ciclistas são naturalmente ecológicos; os que ainda não o são, falta-lhes aprender o exercício da desaceleração.
                                                                                Felipe André Aço

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